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Mãe fora do contexto

  • idadecronica
  • 9 de mai.
  • 2 min de leitura

Ontem, depois de lançar um bom dia, a única resposta que recebi foi da cachorrinha das minhas filhas. Meg me respondeu com uma lambidinha. Fofa, presente, educada. As adolescentes da casa estavam ocupadas demais se atualizando com as amigas sobre a “treta teen que dominou a internet”.


Essa fase da maternidade é um estágio muito avançado no game. Novos vilões com habilidades mais complexas, menos recursos disponíveis, obstáculos inéditos, novas regras... E sem você se dar conta direito, percebe que está no meio de um período de escassez extrema na vida: os filhos entram na adolescência exatamente quando começa o climatério. É rejeição em dois turnos. Pelos filhos e pelos hormônios.


Você tenta ser simpática. Você tenta ser legal. Você até sugere que elas usem aquela jaqueta "vintage" do seu tempo — que hoje, aliás, é raridade em brechó e tem gente disposta a pagar bem por ela. O que recebe? Um olhar que mistura pena com um sorrisinho de canto de boca que diz: “Que dó, ela tá tentando.”


Você entra no quarto para avisar que a janta está pronta e leva um “MÃÃÃÃEEE!” como se tivesse interrompido a votação do Conclave na Capela Sistina. 

Você pergunta como foi o dia. Elas respondem: “normal”. Você insiste: “normal como?” E elas: “normal.” Aqui em casa são gêmeas, então a sensação que fica é de eco.


Uma amiga disse que tentou usar com a filha uma gíria mais atemporal e soltou um “fofíssimo”. Foi como se tivesse dito “Orkut”. Pior ainda: disse também que se ousa comentar algo na legenda de um post, recebe na hora um “apaga isso, mãe”. E tem que ficar satisfeita por ainda estar autorizada a seguir.


A gente se sente fora de moda, fora de contexto, fora do feed. Tanto que o algoritmo já entendeu e só me entrega vídeos sobre “inadequação materna”, “como dialogar com adolescentes” e “seu adolescente quer espaço”.


Ser mãe é lindo, sempre é! Ser mãe de adolescente é de tirar o fôlego. É a beleza da superação. É manter pose de importante quando você é descartada, manter o coração aberto, a pizza quente — mesmo quando tudo o que eles querem é Wi-Fi e silêncio.


A sensação é que estamos envelhecendo para fora do mercado: o mercado emocional dos filhos. Somos aquelas peças de coleções passadas, que já saíram de linha, mas ainda estão na prateleira “porque pode servir um dia”.


E ainda tem o bônus: a culpa de sempre. Porque a gente se sente mal por não entender. Se sente velha por tentar entender. Se sente sozinha por não ser entendida.

Mas, olha, tem uma coisa que a gente precisa lembrar — e talvez seja isso que nos faz seguir firmes: ser mãe de adolescente também é ver, com orgulho, os filhos ganharem voz, estabelecerem suas vontades, pensarem por conta própria e se encorajarem com as mãos trêmulas. 


No fundo, a gente não quer ser perfeita. A gente só quer estar lá. De prontidão.

Claro que a gente queria, de vez em quando, um “valeu, mãe”. Nem precisa ser público. Um bilhetinho no travesseiro serve. Um emoji de coração. Ou, sei lá… uma lambidinha igual a da cachorra.


Mas, mesmo quando não tem nada disso… Ver que o dia deles terminou bem já é mais que suficiente.




 
 
 

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Obrigada por escolher Idade Crônica!

ASIN ‏ : ‎ B0DNKCQFVM

ISBN 978-65-01-21095-7

Ano de publicação: 2024

Impresso por: Fábrica do Livro

Distribuído por Amazon Brasil

Copyright ©Rejayne Nardy 2024 - Idade Crônica - Todos os direitos reservados.

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