Ficar no outro
- Rejayne Nardy
- 27 de set
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de out
Outro dia tirei print de uma frase que ficou ecoando na minha cabeça. Sim, tenho uma pasta no celular só de prints de textos e frases que me comovem. Uma grande coleção de tudo que se escreve por aí, desde frase de caminhão a trechos de livros que adoro, e que me ajuda a lembrar quem sou e como penso sobre o que me rodeia. A frase era a seguinte:"A gente é o que fica no outro."Não faço ideia de quem escreveu isso, mas me causou impacto.
Somos únicos, muitos... mutáveis e estamos de passagem. É bom quando a gente se entende, se reconhece em nós e lida bem com nossas escolhas e com quem nos tornarmos no mundo. Algo extremamente pessoal e importante. Mas eu concordo que somos também, quase incontrolavelmente, o que de nós está no outro. Talvez sejamos, principalmente, o que fica de nós nas pessoas que cruzam o nosso caminho.
Algumas pessoas ficaram em mim e sou capaz de dizer que dificilmente sairão daqui. Aquela prima que, mesmo distante nos dias de hoje, esteve ao meu lado todas as vezes que, na adolescência, eu perdi o rumo. É lembrança certa e sorriso no rosto. Aquele professor que causava pânico na turma e até hoje aterroriza aquele meu pesadelo recorrente. É sorriso de alívio. Passou! Passei em matemática. Aquele chefe que me deu aumento sem eu ter que pedir e viu em mim talentos que eu não estava em condições de reconhecer. É sorriso de orgulho. Aquele outro que entrou numa reunião só para me proteger quando eu achei que tudo estava perdido. Sorriso de gratidão, de carga dividida.
Está em mim também aquele amor que me aceita sem exigências de perfeição. Sorriso bobo naquele dia comum, trazendo paz pro cotidiano. Não sai de mim (nunca) os primeiros passos, as primeiras palavras e todas as aventuras superadas de quem, mesmo eu trazendo ao mundo, depois de certa idade, não me pertence mais. Sorriso de mãe. Resiste, aquela tarde de casa cheia, pastel de carne e desenho animado no televisor novo. Sorriso de filha.
Essas pessoas e muitas outras que talvez não se reconheçam mais sendo as que passaram por mim, permanecem aqui, mesmo que nunca mais voltem por minhas redondezas.
E tem também as pessoas ainda próximas que, do meu lado, me lembram que a eternidade não significa ausência de fim, mas profundidade no que deve ser vivido.
Ficar no outro é eterno. É a presença que pode se ausentar porque sabe que já se enraizou em sorrisos involuntários que irão morar numa pessoa pra sempre.
O print dessa frase me despertou também a ideia de que, às vezes, o que deixamos nos outros é maior do que fomos de fato. É quando ficamos em alguém que nos transformamos em mito, saudade, lição ou inspiração — quase sem querer.
