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Estar na Moda

  • Foto do escritor: Rejayne Nardy
    Rejayne Nardy
  • 2 de nov.
  • 3 min de leitura

Quando o estilo deixa de ser aparência e vira permanência.


foto bastidores da moda

Essa semana me perguntaram o que me fez mudar de ramo na carreira.

Respondi: o amor pelos sapatos. Mentira. Foi coragem pós meia-idade mesmo. Mas é inegável que trocar o cheiro de gasolina pelo aroma de couro legítimo me fez partir sem pensar demais.


Saí do chão áspero dos postos de gasolina, do concreto bruto das concessionárias, e entrei no território do salto agulha com, no mínimo, aquela esperança nova de ganhar 10 cm de altura na escalada da vida. Na chegada, levei comigo o tênis surrado, o moletom de guerra, a praticidade como aliada. Logo eu, que achava moletom uma espécie de segunda pele corporativa, fui parar num lugar onde a palavra “pantone” causa mais comoção do que “lucro”.


Nunca achei que me vestia mal, mas sabia que meu guarda-roupa não era exatamente um “caso de estudo fashion”. Quando vi o desfile de looks da manhã de segunda-feira, a pergunta bateu forte:“O que viram em mim?”


Nós, mulheres — eternas companheiras da síndrome da impostora.

Se fosse um homem, ia chegar com camiseta estampada e alfaiataria risca de giz achando que os colegas estilistas tentariam copiar.


Mas a moda foi generosa comigo. Ela não me respondeu com palavras. Ela me respondeu com transformação.


Meu olhar mudou. A estética, ou a falta dela, passou por um ressignificado. Não era mais sobre vaidade — e sim sobre voz, sentido. O armário foi se reinventando aos poucos, mas o que mais se alterou nesse tempo foi a mente.


A moda começou a moldar também minha maneira de observar o mundo — e isso inclui pessoas, escolhas e até o modo como desejo envelhecer: sigo com planos de ser mais leve, mais feliz — mas agora, também, uma velhinha com estilo.


Percebi uma tendência universal de associarem moda ao glamour. Mas quem vive nos bastidores sabe: tem dia que o corpo só pede distância do imparável exercício criativo, um banho quente e um quarto silencioso. Tem dia que você jura estar com fobia social, mas é só cansaço mesmo.


A rotina não é feita de flashes. É feita de pó, cola, chão de fábrica, viagens com 6 malas de sapatos acopladas ao seu corpo. São sempre três campanhas na sua cabeça enquanto revisa conteúdo, presskits, planos de venda e mídia.


O cotidiano também é feito de muito cuidado com nosso maior inimigo: as repetições... Moda exige novidade sempre. Um mundo de releituras infinitas, onde não sabemos mais quem inventou primeiro aquela ideia. E ainda assim, tudo vale o esforço. Porque a moda nos desafia — e nos movimenta. Nos coloca no futuro e isso vicia, é dopamina pura.


A moda me empurra pra frente, pro que se anuncia em comportamento, cores, formas. Hoje vejo muita coisa que antes não via. E, ao contrário do que se pensa, vejo menos estética e mais essência. E como bem definiu Coco Chanel no auge de sua maturidade fashion:

Moda é menos sobre aparência e mais sobre quem somos.

Menos sobre dinheiro e muito mais sobre educação, berço.

É quase nada sobre roupa ou sapato — e muito sobre escolhas que nos definem.


A moda também me fez acreditar ainda mais que influencia de verdade quem faz bem pro outro. Esse “bem” pode ser a a simples inspiração para um look do dia ou um lembrete suave de quem somos e acabamos esquecendo.


A moda me ensinou a conviver com contradições:

O feed impecável versus o bastidor bagunçado.

O take borrado que comunica mais verdade do que o editorial montado.

A meta de venda enfrentando a escassez que gera frisson.

Mas, principalmente, me fez entender gente com mais profundidade. O estilo como uma extensão da alma. A estética como um convite à história de cada um.


Só que nem todo mundo entende isso.

Existe, sim, quem só enxergue ostentação. Gente que não se importa com o que vem junto da estética deslumbrante.

Mas esses… são os que passam pela moda.Não os que permanecem.


Ostentar é fácil. Todo mundo sabe. Mas sustentar... Ah, sustentar exige esforço, entrega e, claro, a escala de cores certa.

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